Teatro

TEMA: “FAZER TEATRO É UM GRANDE BARATO”
FORMAÇÃO PARA MINISTÉRIOS DE TEATRO


AUTOR: DOUGLAS SANTANA
MEMBRO DO MINISTÉRIO DAS ARTES – DIOCESE DE OSASCO Representar: desempenhar o papel, as atribuições, a função de;


O QUE É REPRESENTAR?


No teatro usamos muito o termo “REPRESENTAR”. Ora, se Deus quer que Sempre sejamos nós mesmos, sem máscaras, por que, então, o teatro é permitido na igreja? Por que utilizamos do ato de representar dentro da igreja? Por que usar de uma representação para falar de algo que é verdadeiro?

Temos que ter em mente que representação não é fingimento e ator não é falso, fingido. O ator representa algo ou alguém para nos mostrar uma situação de forma mais clara e dinâmica.


FAZER TEATRO É UM GRANDE “BARATO”

O ator pode viver uma vida que jamais pensou em viver, pode passar por situações que nunca pensou em passar. O teatro leva o ator a ter experiências que, talvez, ele nunca pudesse ter em sua vida. Mas, muitos devem se perguntar: “O que vale viver uma emoção ou experiência se ela não é sua?”. Aí nós nos deparamos com duas linhas distintas de interpretação: a do distanciamento que é aquela onde o ator se distancia do personagem, neste tipo de representação o ator deixa claro para o público que ele está representando o seu personagem. O maior representante desta linha é Brecht ((Augsburg, 10/02/1898 – Berlim, 14/08/1956). Influente dramaturgo, poeta e encenador alemão do século XX.). O outro tipo de representação é aquele em que o ator vive o  personagem, sentindo suas experiências, suas alegrias, suas tristezas e tudo mais o que for necessário para representá-lo. Neste tipo de representação o ator usa de suas próprias emoções para dar vida a seu personagem. Stanislavski ((Moscou, 05/01/1863 – Moscou 07/08/1938). Fundador do Teatro de Arte de Moscou, ator e criador do sistema Stanislavski de atuação realista, ainda hoje básico na arte da representação.) é o maior expoente dessa representação.

No capítulo 27 de Gênesis, temos uma passagem muito interessante. Neste capítulo podemos observar uma forma primitiva de teatro, onde encontramos as figuras do ator, do diretor, do autor, do narrador e do expectador (de uma forma bem atuante). Ainda podemos ter uma idéia de outros elementos necessários à arte de representar: cenário e figurino.

Sem dúvida o ator é a figura mais importante do teatro, é ele que conta a história, passa a mensagem e convence o público que tudo o que está vivendo é real. Um bom ator é aquele que convence o público de que o que ele está vivendo é verdadeiro mesmo o público sabendo que tudo não passa de uma história de ficção.


AUTOR: O DONO DO TEXTO

“Isaac envelhecera e seus olhos enfraqueceram-se, de modo que não podia ver.Eis a cena: Um homem muito velho, quase cego e à beira da morte chama seu filho primogênito, Esaú, (Esaú é um exímio caçador) e ordena que ele vá em busca de uma caça, depois prepare um prato suculento para que o pai coma e o abençoe antes de morrer. O filho obedece e sai em busca da caça.Podemos observar a figura do autor. Isaac cria uma situação seu filho Esaú são os personagens. Toda peça de teatro tem um texto para ser seguido, pode-se até não existir o texto, porém necessariamente tem que haver uma história para ser contada ou encenada.

Se ao escrever o texto o autor não coloca as rubricas, dificulta o entendimento do texto por parte dos atores e diretor. Ao montar o espetáculo o diretor vai ter de imaginar o que o autor quis dizer e nem sempre, ou quase nunca a montagem vai sair como o autor a concebeu. O autor deve lembrar que nem sempre ele vai estar junto com os atores e o diretor nos ensaios para dizer o que imaginou quando escreveu o texto.


DIRETOR: BUSCANDO A VERDADE DO AUTOR

Escolheu as mais belas vestes de Esaú, seu filho primogênito, que tinha em casa, e revestiu com elas Jacó, seu filho mais novo. Cobriu depois suas mãos, assim como a parte lisa do pescoço, com a pele dos cabritos, e pôs-lhe nas mãos o prato suculento e o pão que tinha preparado. Gn 27, 8-10.15-17

“Ouve-me, pois, meu filho, e faze o que te vou dizer. Vai ao rebanho e traze-me dois belos cabritos. Prepararei com eles um prato suculento para o teu pai, como ele gosta, tu lho levarás e ele comerá, a fim de que te abençoe antes de morrer”.

O diretor tem papel importante na montagem de um espetáculo teatral. Ele ajuda os atores a compreender melhor o texto e os personagens, é o diretor que dá a linha de interpretação, ou seja, ele determina se o espetáculo vai ser cômico ou trágico, lento ou rápido ou se vai ser uma montagem moderna ou de época. O diretor determina muitas vezes até para onde o ator deve andar no palco e a forma que ele deve se portar em cena, porém não deve esquecer que ele não manda nos atores e nem em toda a equipe, apenas orienta para que o trabalho possa ser organizado e ter bons resultados. O diretor concentra em si toda a organização, pois é pouco produtivo um ensaio em que todos os atores e a equipe ficam palpitando o tempo todo.

Na passagem acima, podemos observar e entender Rebeca como uma diretora de teatro. Ela entendeu o texto, deu a sua interpretação e orientou Jacó (ator) como deveria agir. Essa passagem é muito interessante, pois mostra a intervenção do diretor até na escolha do figurino e composição física do personagem. Jacó era diferente de seu irmão Esaú que tinha muitos pêlos pelo corpo. Rebeca atenta a esse detalhe escolhe um figurino que possa contribuir com a composição física do personagem, uma veste que cobre a maior parte do corpo de Jacó, onde a túnica não cobre, ela usa a pele de carneiro (nas mãos e pescoço) para se passar por pêlo.

Outro detalhe interessante é: O diretor precisa saber para que tipo de público ele está montando o espetáculo, ou seja, nesse caso Isaac está quase cego, então era preciso que o ator estivesse com algo que ao ser tocado se passasse por pêlos, daí a opção pela pele de carneiro.

Nos nossos espetáculos da igreja devemos agir da mesma forma, procurar saber para quem vamos apresentar a peça e em que local. Se for ao final do grupo de oração é um tipo de peça, se for na santa missa é outro tipo de peça, caso seja em uma festa de padroeiro ou qualquer outra festividade a peça tem de ter outra linha de interpretação.


ATOR: A ARTE DE SER


“Jacó foi para junto do seu pai e disse-lhe; “Meu pai!” “Eis-me aqui! Quem és meu filho?”. Jacó respondeu: “Eu sou Esaú, teu primogênito; fiz o que me pediste. Levanta-te, assenta-te e come de minha caça, a fim de que tua alma me abençoe.” “Como encontraste caça tão depressa, meu filho?” É o Senhor, teu Deus, fez que ela se apresentasse diante de mim.” “Aproxima-te, então, meu filho, para que te apalpe e veja se, de fato, és o meu filho Esaú.” Jacó aproximou-se de Isaac, seu pai, que o apalpou e disse: “A voz é a voz de Jacó, mas as mãos são as mãos de Esaú.” E não o reconheceu, porque suas mãos estavam peludas como as do seu irmão Esaú. E abençoou-o”. Gn 27,18-23

O texto precisa ser entendido antes de ser decorado. O ator deve conhecer as relações interpessoais (personagens com quem o seu personagem se relaciona) existentes no texto para então encontrar respostas para perguntas como: Quem são os personagens do texto? Onde eles estão e o que estão fazendo? Deve também procurar respostas sobre seu personagem: Como ele é? Como se veste? Quantos anos tem? Como fala, anda, etc? Só depois de respondidas estas perguntas é que o ator tem condições de decorar o texto. A isso chamamos de “TRABALHO DE MESA”, que é o entendimento do texto e o ato de decorá-lo antes dos ensaios, efetivamente. Os ensaios e trabalho de toda a equipe é facilitado quando o trabalho de mesa é bem feito.


MINISTÉRIO

Diz a CNBB: “Ministério é, antes de tudo, um carisma, ou seja, um dom do Alto, do Pai, pelo Filho, no Espírito, que torna seu portador apto a desempenhar determinadas atividades, serviços e ministérios em ordem à salvação”. (CNBB, Missão e ministério dos cristãos leigos e leigas, n.84.)

Os atores devem entender o texto, pois, no caso de esquecimento – pode ocorrer o famoso “BRANCO” – o que é muito comum acontecer, se ele tiver entendido o texto, vai conseguir substituir a fala esquecida por algo de igual significado. Quando entende e conhece, e, não somente, decora o texto, o ator poderá usar do artifício da improvisação, pois, mesmo acontecendo algo em cena que não tenha sido combinado ou ensaiado anteriormente o ator vai conseguir sair da situação inesperada sem que a platéia perceba seu esquecimento. Não podemos confundir improvisação com “enrolação”.

O teatro é por excelência a arte do ator. É ele que comanda o espetáculo, que prende a atenção do público na história que está sendo contada. Ele é o dono da cena.

Na passagem bíblica: Gn. 27, 18-23 podemos observar retratado em Jacó a figura de ator, embora ele tenha representado muito mal o seu papel. Não compôs o seu personagem como deveria, fato que colocou em risco sua apresentação, pois a platéia (Isaac) quase percebeu que não se tratava de Esaú, personagem que ele estava representando. Isso aconteceu porque Jacó deu mais importância ao que era externo ao personagem (figurino) e não se preocupou em se comportar como Esaú, esquecendo, até mesmo da diferença de voz que existia entre ele e seu personagem.

Claro, que precisamos de bons textos e diretores e, contamos também com figurinos, cenários, adereços, maquiagem, sonoplastia e iluminação que são elementos que ajudam, e muito, o ator a desempenhar o seu papel, mas nada tira dele a responsabilidade de fazer uma excelente apresentação, e nada pode ser mais importante para o ator que o seu corpo e a sua voz, que são os seus instrumentos de trabalho. No caso do ator cristão, além do corpo e da voz ele usa como instrumento indispensável a comunhão com o Espírito Santo que é o que o impulsiona a sentir e realizar o que está no coração de Deus.

“O termo “ministério” é amplamente usado na Renovação Carismática paradesignar de uma maneira geral os diversos serviços do Grupo de Oração (...) Um ministério é um serviço específico dentro do Grupo de Oração. É um trabalho para servir à comunidade cristã, uma maneira de exercitar o apostolado. Cada batizado é chamado a crescer, amadurecer continuamente, dar cada vez mais fruto na descoberta cada vez maior de sua vocação, para vivê-la no cumprimento da própria missão”. (EPA, Ministério de formação – grupos de oração – modulo básico – apostila 3.)
 
Ministério de teatro não é grupo de teatro, portanto não nos reunimos somente para ensaiar, ou discutir qual peça iremos montar, ou ainda, somente para termos formação técnica. Ministério pressupõe oração, comunhão com os irmãos, vida comunitária, é dentro do ministério que vivemos de forma intensa e muito íntima a nossa espiritualidade, o ministério constitui uma verdadeira família, onde todos se conhecem e buscam viver as angustias e alegrias uns dos outros.
Um grupo de teatro apresenta a beleza e a técnica que o mundo ensina, enquanto que um ministério apresenta a beleza e a verdade de Deus. Todo ministério para dar frutos tem de ser profético, portanto é preciso organizá-lo para que ele cumpra sua missão de evangelizar.

Espiritualidade e técnica andam juntas, mas não se confundem, por isso, no dia-a-dia do ministério existem dois momentos bem distintos; da oração e dos ensaios. Um momento não pode e, de modo algum, não deve tomar o lugar do outro ambos devem andar juntos, pois se complementam e são ferramentas indispensáveis na vida e caminhada do ministro-ator.

Temos que entender que ministério de artes, de modo especial, de teatro, é tão importante como todos os outros existentes na Renovação Carismática. Deus através do Espírito Santo não concede e não propõe nada em vão à Sua igreja, portanto o ministério de teatro não é algo criado só para distrair os jovens ou dar um serviço para aqueles que não tem nada para fazer dentro do grupo de oração. Pelo contrário o ministério de teatro é um poderoso meio de evangelização principalmente para os jovens.

Existem muitos conceitos errados acerca do ministério de teatro e, a nossa obrigação como atores é mudar esses conceitos com nosso testemunho e nosso
serviço no grupo de oração e na comunidade.

É necessário quebrar certos paradigmas como: Somente os jovens podem participar do ministério de teatro; Teatro tem de ser engraçado e fazer o povo rir; A peça para ser boa tem de fazer o povo chorar; Usar uma peça de teatro só para preencher o tempo em um retiro entre outros.


ORAÇÃO E CRIAÇÃO

“Queridos artistas, como bem sabeis, são muitos os estímulos, interiores e exteriores, que podem inspirar o vosso talento. Toda a autêntica inspiração, porém, encerra em si qualquer frêmito daquele « sopro » com que o Espírito Criador permeava, já desde o início, a obra da criação. Presidindo às misteriosas leis que governam o universo, o sopro divino do Espírito Criador vem ao encontro do gênio do homem e estimula a sua capacidade criativa. Abençoa-o com uma espécie de iluminação interior, que junta a indicação do bem à do belo, e acorda nele as energias da mente e do coração, tornando-o apto para conceber a idéia e dar-lhe forma na obra de arte. Fala-se então justamente, embora de forma analógica, de « momentos de graça », porque o ser humano tem a possibilidade de fazer uma certa experiência do Absoluto que o transcende.(João Paulo II) (Carta do Papa João Paulo II aos artistas – 1999.)

O saudoso Papa João Paulo II nos diz que o Espírito Santo vem ao nosso encontro e nos estimula a criar e, que temos a oportunidade de experimentar de momentos de graça. Quanta beleza e seriedade há nas palavras do nosso querido e saudoso Pastor. Para o Espírito nos estimular é necessário que estejamos em comunhão com Ele, portanto para a criação de qualquer espécie de arte cristã, de modo especial, de uma peça de teatro é indispensável à oração.

É através da oração que vamos conceber todo e qualquer espetáculo teatral conforme a vontade do coração de Deus. É preciso unir a nossa criatividade e o nosso trabalho à vontade de Deus. Ao realizarmos as nossas peças se usarmos somente da nossa inteligência humana e da nossa criatividade corremos o risco de enchermos os olhos da platéia com muita beleza e técnica, mas com certeza esse espetáculo não vai ser capaz de cumprir sua função, primeira, que é a de tocar o coração e causar transformação de vida nos irmãos. João Paulo II (Carta do Papa João Paulo II aos artistas – 1999) 

Qual a diferença entre criador e artífice? Quem cria dá o próprio ser, tira algo do nada _ ex nihilo sui st subiecti, como se costuma dizer em latim – e isto, em sentido estrito, é um modo de proceder do Onipotente. O artífice, ao contrário, utiliza algo já existente, a que dá forma e significado. Este modo de agir é peculiar do homem enquanto imagem de Deus.(...)

Não criamos nada. Apenas usamos daquilo que Deus criou e transformamos naquilo que Deus quer, portanto não nos é permitido transformar algo que não criamos sem o consentimento do autor que é Deus Pai. A oração é o princípio de toda obra de arte cristã, porque é o único meio que utilizamos para conhecer a vontade de Deus e realizá-la.

Ministro-atores, estejamos sempre atentos à vontade de Deus e façamos com que nossos ministérios sejam proféticos a partir da misericórdia de Deus.


O autor de toda a obra é Deus Pai e não há outro meio de saber o que Ele quer a não ser conversando, dialogando e colocando-se em posição de escuta e, isso se dá exclusivamente através da oração. São nos momentos de oração com os irmãos que Deus revela o quer do ministério, na oração é revelada cenas e até peças inteiras.


Ex:
Isaac: Prepara-me depois um prato suculento, como sabes que gosto, e traze-mo para que o coma e minha alma te abençoes antes que eu morra” (Ora, Rebeca ouviu atentamente enquanto Isaac falava ao seu filho Esaú.)

Chamou Esaú, seu filho primogênito, e disse-lhe: “Meu filho!” “Eis-me aqui”,
respondeu ele. Isaac disse: “Tu vês, estou velho e não sei quando vou morrer.
Toma as tuas armas, tua aljava e teu arco, vai ao campo e mata-me uma caça.
Prepara-me depois um prato suculento, como sabes que gosto, e traze-mo para que o coma e minha alma te abençoe antes que eu morra.” (Ora, Rebeca ouviu atentamente enquanto Isaac falava ao seu filho Esaú.) E Esaú partiu para o campo, a fim de matar e trazer a caça.”Gn 27,1-5

O gênero mais comum usado no teatro é o gênero dramático, ou seja, é aquele em que há diálogos entre os personagens. Na passagem de Gn. 27, 1-5 há um diálogo entre Isaac e seu filho Esaú. Neste caso há um texto a ser seguido, a ser decorado, e mais do que isso, existe um texto a ser compreendido.

O autor ao escrever o texto dramático deve mencionar todas as intenções, deve descrever cenários, objetos de cena e tudo o que for necessário para que ao lerem o texto, atores e diretor compreendam ao máximo o que ele quis dizer. As observações que o autor escreve no texto são chamadas de rubricas e são escritas entre parênteses.